Divisões na História
Cristoph Keller – em latim Cellarius (1638/ 1707 d.C.) – consagrou a divisão da História em antiga, medieval e moderna. O estabelecimento dessa divisão privilegiou dois pontos, um em cada extremidade, considerados pelos homens dos séculos das luzes como os mais significativos: a Antiguidade e a Modernidade. Ao se denominar os mil anos que separavam esses dois extremos de Idade “Média”, a impressão é, que esta não se definiria de modo positivo mas apenas figurava como coadjuvante das outras duas, atribuindo-se erroneamente a esse período um ambiente estéril e de retrocesso: a idade das trevas.
Pensar a história a partir dessa divisão, isolando a Idade Média das luzes da humanidade certamente encontra muitas dificuldades quando se pensa, sobretudo, na ciência e na filosofia desenvolvidas no mundo árabe no período denominado medieval. Esse hiato criou inúmeros obstáculos para o estabelecimento de uma cadência contínua dos acontecimentos e das transmissões e recepções entre a ciência antiga, medieval e moderna.
Quando se substitui tais divisões e se compreende a história em seu fluxo ininterrupto, torna-se mais fácil conectar as diversas transmissões da filosofia ao longo do tempo. Assim como um continente não comporta em si mesmo os traços que o dividem em vários países, assim também a história, em seu fuxo contínuo, não possui divisões. A falsa impressão de uma interrupção medieval compromete os fios que tecem a história.