De Bizâncio à Bagdá
No século VI d.C. a filosofia era cultivada em Bizâncio, marcada não só pelo aristotelismo mas também pelo neoplatonismo. Este último circulava, principalmente, pelos textos do pseudo-Dionísio, autor, na verdade, de identidade desconhecida, talvez um monge sírio que se fez passar pelo real Dionísio, o Aeropagita, contemporâneo de São Paulo e que se convertera aos olhos do apóstolo. O autor do corpus atribuído a “Dinonísio” operou, nos anos 480-510 d.C., uma decisiva aproximação do cristianismo com a filosofia neoplatônica.
A força, pois, desses escritos tiveram a intensidade de um testemunho dos primeiros anos do cristianismo, contribuindo para inaugurar uma teologia negativa exaurindo a possibilidade do intelecto referir-se a Deus de modo positivo, o que indicava os limites da razão humana para chegar ao divino. Pela via mística na qual descreve a união com Deus em termos de agnôsia (desconhecimento) e de henosis (união além de toda apreensão intelectual), o pseudo-Dionísio opôs-se à metafísica aristotélica. Depois de Dionisio, pensador anterior ao surgimento da falsafa, o centro da atividade filosófica deslocou-se de Bizâncio para o oriente até chegar à Bagdá, capital do califado abássida no século IXd.C.
Foi num mundo oriental dominado principalmente pelo Império Bizantino e pela Pérsia, que agrupou povos em constante tensão, num cenário de convivência entre judeus, cristãos e pagãos; de influências recíprocas, de tensões e lutas doutrinais entre os religiosos, de desenvolvimento e ininterrupta sequência do conhecimento da língua e da filosofia gregas que reuniam as teses platônicas, aristotélicas e neoplatônicas, que os árabes, irrompendo no cenário histórico empunhando a bandeira de uma nova fé, defrontaram-se com a filosofia, com suas soluções e seus problemas que passaram, também, a sê-los na língua árabe.