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Conhecer a Falsafa

              A recepção da filosofia e das ciências em língua grega no emergente mundo árabo-islâmico do século VIII d.C. foi parte de uma recepção mais ampla de conhecimentos, incluindo saberes originários da India, da Pérsia, do Egito, da China e do conjunto das civilizações mesopotâmicas. Os filósofos de língua árabe deram novos contornos à interpretação dos sistemas filosóficos da Antiguidade, ampliando-os, desenvolvendo-os e estabelecendo novos paradigmas na evolução da história do pensamento universal.

         A extensa produção dos principais filósofos de língua árabe, entre os séculos IX d.C. e XIII d.C, deu nova fisionomia à filosofia, chegando a unir, por exemplo, o pensamento de Aristóteles ao de Platão – abordagens aparentemente irreconciliáveis – em sistemas de grande envergadura. No primeiro período, de tradução e recepção da filosofia grega, destacaram-se os nomes de Hunayn Ibn Ishaq, Al-Kindi e Al-Farabi. O segundo período atinge seu ápice com a sistematização da filosofia realizada por Avicena (Ibn Sina), levando a falsafa ao seu momento mais otimista e acabado. Depois desse período de construção das principais ideias, seguiu-se uma fase de crítica e revisão por meio das obras de Averróis (Ibn Rushd), completando o ciclo da produção da falsafa em seu período clássico.

            O impacto desse movimento da filosofia provocou revisões epistemológicas de toda ordem. Por um lado, a falsafa tornou-se um dos elementos constitutivos do pensamento medieval do Ocidente latino e, por outro lado, foi um dos fundamentos do pensamento iluminacionista nas partes mais orientais do mundo árabo-islâmico. Nesse sentido, a presença de um vasto corpus de textos greco-árabe na Europa pré-renascentista abriu novos caminhos de investigação para o estudioso do século XXI que procura compreender a interconexão entre Oriente e Ocidente.

         Os desdobramentos da grande produção de livros e escritos relativos à falsafa, tanto nas partes mais orientais do mundo árabo-islâmico como na Europa Medieval de língua latina, permite, hoje em dia, um retorno  aos textos clássicos dos principais autores: Al-Kindi, Al-Farabi, Avicena e Averróis. Nos dias atuais, correntes de pensamento aparentemente tão diversas entre Europa e Ásia podem ter raízes comuns que se encontram nas ideias de tais pensadores. Filosofia e ciências  são temas que permeiam suas obras, ajudando a compreender a evolução da história do pensamento universal, indo muito além da distorcida e estreita visão que atribui ao pensamento uma dicotomia entre oriente e ocidente.

      Conhecer e estudar a filosofia entre os árabes desmonta paradigmas dualistas, permitindo uma compreensão unificadora e integrada da história do pensamento universal. Esperamos que as informações contidas neste espaço virtual auxilie aos que, assim, desejam reformar suas idéias e, consequentemente, reformar o mundo em que se vive e se pensa.

                                                                                                                                Miguel Attie Filho
                                                                                                                                  Junho de 2010 

                               

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